Bancos renovam apostas no crédito consignado em 2020

Linha que mais cresceu em novas concessões neste ano, o crédito consignado — com desconto em folha de pagamento — tem atraído grandes instituições privadas, bancos digitais e fintechs, que projetam forte avanço para a modalidade também em 2020.

Com a recuperação mesmo que lenta do emprego e os juros nas mínimas, a expectativa é de maior demanda pelo produto, inclusive com migração de clientes que têm empréstimos mais caros.

Segundo o Banco Central, de janeiro a outubro as concessões de crédito consignado cresceram 37,3%, para R$ 26,8 bilhões, maior avanço entre as linhas de pessoas físicas com recursos livres.

Em outubro, a modalidade representava 13,9% dos novos empréstimos concedidos aos indivíduos no país, ante 6,7% no mesmo mês de 2016, quando a Selic começou a cair. Ao longo desse período, o juro médio na linha foi reduzido em 0,6 ponto percentual, para 1,6% ao mês.

Analistas apontam que o crédito consignado é uma modalidade segura, porém rentável, e por isso há um movimento para reforçá-la no cenário de melhoria para o crédito no país. “O movimento natural para as instituições financeiras em um processo de retomada é adicionar risco aos poucos”, diz Victor Schabbel, analista de instituições financeiras do Bradesco.

Schabbel ressalta que o consumo de capital das instituições financeiras para a linha costuma ser baixo, bem como a inadimplência, que está em média em 2,2%, ante 5% no crédito para pessoas físicas de forma geral.

No Bradesco, diz Leandro Diniz, diretor do departamento de Empréstimos e Financiamentos, houve crescimento de mais de 30% na carteira de consignado neste ano, e a perspectiva é de superar esse desempenho em 2020. Em setembro, o saldo na linha do banco era de R$ 60,3 bilhões — pouco abaixo do estoque da Caixa (R$ 61 bilhões), mas ainda distante do Banco do Brasil (R$ 78 bilhões), bancos públicos que lideram na linha.

“Há dois anos, tínhamos R$ 15 bilhões a menos na carteira, mas com planejamento e tecnologia encostamos no número da Caixa”, afirma Diniz. “O crédito consignado é um produto que vai continuar andando bem em 2020.”

No Itaú, a carteira de consignado alcançou R$ 49 bilhões no terceiro trimestre deste ano, com aumento de 10,5% em dois anos, sendo os beneficiários do INSS responsáveis por quase 80% do total.

Segundo o banco, para 2020 há expectativa de que a linha ganhe mais força, especialmente levando em conta o compromisso assinado por 23 instituições financeiras em setembro no âmbito da autorregulação. O documento prevê bloqueio de ligações ao cliente que não quiser receber ofertas e uma base de dados para monitorar reclamações relativas à linha.

Segundo Sandra Rodrigues, superintendente-executiva de crédito pessoa física no Santander, a modalidade tem crescido no banco como reflexo da estratégia de conquistar folhas de pagamento de empresas e do avanço de canais digitais.

Em setembro, a carteira somava R$ 40,6 bilhões, avanço de 25,6% em 12 meses. O crescimento vem tanto de crédito novo quanto da troca de dívidas mais caras para mais baratas. “O consignado é potente em melhorar o perfil do endividamento do cliente”, diz.

Em 20 de novembro, o Santander anunciou o pagamento de R$ 1,6 bilhão para comprar a fatia remanescente de 40% do Banco Olé, especialista em consignado. O Olé continua — ao menos por enquanto — com uma operação independente focada no setor público e navegando em “mar aberto”, segundo Sandra. Já a equipe de consignado do Santander atua voltada à base de clientes. “São estratégias complementares.”

Líderes no consignado, grandes bancos têm se deparado com a concorrência de bancos digitais e fintechs. Com sede em Porto Alegre, o Agibank, por exemplo, conquistou no início de novembro três lotes num leilão de folha de pagamento do INSS, para o período de 2020 a 2024. Das 26 regiões leiloadas, o Banco Crefisa arrematou dez, seguido pelo Banco Mercantil, com oito, e Agibank e Santander, com três. Itaú e BMG ficaram com uma região cada.

“O crédito consignado é um produto que traz risco menor para a operação, com prazos maiores e taxas menores”, diz Fernando Castro, diretor de tecnologia e produto do Agibank.

“Estamos fortes no consignado para o setor público, mas o objetivo é ir para o setor privado”, conta. O banco digital quer dobrar a carteira no consignado no próximo ano, chegando a R$ 1 bilhão. 

Fonte: https://cnf.org.br/bancos-renovam-apostas-no-credito-consignado-em-2020/